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ODIVELAS/LOURES: CAMPANHA ARRANCA COM CASA CHEIA

Citando os números divulgados este fim de semana na imprensa, Catarina Martins acusou Passos Coelho e Paulo Portas por terem entregue, em quatro anos, 8 mil milhões de euros de dinheiros públicos através de ajustes diretos, "ainda mais que no governo anterior" e sem entrar nestas contas "o último assalto aos transportes públicos do Porto". "Depois de toda a campanha que contra os ajustes diretos, o governo do PSD/CDS é capaz de fazer ainda mais ajustes diretos do que fazia o governo do PS. Quando pensávamos que não podia ficar pior, eis que ficou pior", sublinhou, considerando aqueles 8 mil milhões gastos em ajustes diretos como sendo "os números da vergonha e do assalto ao país".

A porta-voz do Bloco começou por resumir o que tem sido até agora a pré-campanha: “Estamos a um mês das eleições e temos visto o primeiro-ministro a recusar entrevistas e a fugir a debates, temos visto a direita a tentar que a campanha não passe da espuma dos dias de casos a seguir a casos, enquanto tentam reescrever o que fizeram nos últimos quatro anos e esconder o programa que têm para os próximos quatro anos”.

Nesta campanha, o Bloco apresenta “propostas difíceis, mas que não desistem do país e não desistem de se viver em Portugal com dignidade”, prosseguiu Catarina Martins: “Parar a transferência de rendimentos do trabalho para o capital e do país para o estrangeiro, restruturando a dívida e obrigando o sistema financeiro a arcar com a responsabilidade da crise que criou, porque não é concerteza quem vive com salários e pensões tão baixos em Portugal que terá criado esta crise”.

Mariana Mortágua centrou a sua intervenção em "três dívidas" a partir do caso da resolução do BES e tentativa de venda do Novo Banco: “há uma dívida de verdade, uma dívida real e uma dívida moral”. A primeira tem a ver com os 3.9 mil milhões de euros da troika “pagos com os sacrifícios que o país sofreu” e que foi parar ao fundo de resolução como um empréstimo aos bancos. “Esses bancos deviam devolver o dinheiro em dois anos. Um já passou e os bancos vieram dizer que não é possível pagar”, afirmou a cabeça de lista do Bloco por Lisboa.

A “dívida moral” prende-se com a solução que será provavelmente anunciada em breve e apresentada como um “plano alargado de reembolso” do dinheiro público por parte da banca. “Mas o que quer dizer plano alargado de reembolso da dívida ao Estado? Quer dizer perdão da dívida”, prosseguiu Mariana Mortágua. “Como podemos aceitar que um governo que recusa a restruturação da dívida pública aceite agora uma restruturação da dívida dos bancos?”, ou que após todos os cortes que fez em nome do controlo do défice “diga agora que um aumento de 1% do défice de 2014 por causa do Novo Banco é uma mera operação contabilística”, questionou a deputada bloquista que protagonizou a Comissão de Inquérito ao caso BES.

“Sabemos bem porque o BES faliu e fizemos propostas para evitar que se repita, mas o governo não fez nada e essa é a sua maior dívida”, concluiu Mariana Mortágua. “O Bloco está cheio de gente que não esquece as dívidas que este governo tem para com o país, gente que não desiste, que fez e continuará a fazer a diferença”.

Na sua intervenção, Pedro Filipe Soares falou da visita que o Bloco fez durante a semana ao Tribunal de Loures, considerando-o um exemplo do fracasso da reforma judicial do governo: “a justiça está mais lenta, mais atrasada e mais injusta do que estava” quando o atual governo tomou posse.

As consequências das privatizações foram outro dos temas abordados numa localidade “onde o grupo Barraqueiro detém o monopólio dos transportes”, bem como as Parcerias Público-Privadas como a do Hospital de Loures, que o Tribunal de Contas considerou mais caro e com menos qualidade do que os hospitais públicos. O que o Tribunal disse é que as “PPP são um roubo. O PS criou-as, o PSD e o CDS amamentou-as e elas continuam a sugar o país“, afirmou Pedro Filipe Soares.

O segundo candidato do Bloco pelo círculo de Lisboa atacou ainda “a técnica do empate”, que reforça a alternância e “prejudica a escolha de cada um e cada uma de nós”. E as pessoas pensam: “Mas então estamos condenados a decidir entre estes dois empatas que empataram o país há 40 anos?”, prosseguiu, concluindo que “temos de escolher aqueles que desempataram e querem fazer a diferença”, dando o exemplo do Bloco como o único grupo parlamentar que abriu o seu espaço para entregar ao Tribunal Constitucional o primeiro pedido de fiscalização dos cortes salariais, quando todos os partidos o recusavam.

“Temos nestas eleições um confronto entre as duas faces do sistema político que nos trouxe até aqui. E o Partido Socialista apresenta o programa mais à direita da sua história: liberalização de despedimentos, recusa da renegociação da dívida, ataque às pensões futuras da Segurança Social”, afirmou Jorge Costa, apelando à mobilização de todos para o combate à abstenção.

O terceiro candidato nas listas do Bloco pelo círculo de Lisboa destacou a presença dos militantes bloquistas de Odivelas e Loures nas principais lutas sociais dos dois concelhos e afirmou que a campanha eleitoral que se avizinha será “a mais difícil das nossas vidas, com tempos sombrios em toda a Europa, onde triunfou a política dos ultimatos e da desumanidade”. “Tivemos razão em opor-nos às guerras e a denunciar que estava a ser semeado o caos no Médio Oriente”, prosseguiu Jorge Costa, lembrando que “a Europa fez parte da política da guerra” e é por isso “culpada da atual crise, como o foi da crise humanitária na Grécia, impondo mais austeridade”.

“Não perdemos o rumo perante a chantagem e os ultimatos da Europa”, pelo que “a esquerda tem de ter um plano B e estar preparada para todo confronto e toda a mobilização”, defendeu o dirigente bloquista e autor do documentário “Os Donos de Portugal”. “Não estamos condenados ao declínio e à emigração, podemos existir como país e é isso que temos a dizer que só há um destino: obedecer na Europa, aceitar as regras da Alemanha e vender tudo aos bocados”, concluiu Jorge Costa.