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OPINIÃO: MALAPOSTA OU A ENTREGA DE OURO AO PRIVADO

66.272,71 euros! Foi este o valor investido pela Câmara Municipal de Odivelas no Centro Cultural da Malaposta nos últimos seis meses. Para quem não conhece o processo em curso de privatização daquele espaço, até parece que estamos perante um executivo municipal com fortes preocupações com a Cultura e com a qualidade de vida da população. Sabemos que não é assim. A Câmara Municipal, com o apoio do PSD, iniciou, em maio de 2016, um percurso para a privatização daquela que é a casa da Cultura por excelência deste concelho. Acontece que, desde então, investiu mais de 66 mil euros em projetos, aquisições, limpezas, reparações e outras intervenções no Centro Cultural da Malaposta. A informação foi facultada pelo próprio executivo camarário em resposta a um requerimento da bancada do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal. Significa então que, por um lado, a autarquia vai não só entregar de mão beijada o espaço com maior relevância cultural em Odivelas, como cede, por outro, mais de 66 mil euros ao sector privado. Esta não é, de facto, uma governação camarária que se quer próxima das pessoas, que se preocupa com o acesso à Cultura por parte de todas e de todos. É sim, pelo contrário, uma gestão voltada para a vertente económica e para a desigualdade. Afinal, sabemos que uma programação cultural que visa o lucro não pode oferecer diversidade e qualidade para toda a população, mas apenas para uma franja que a possa pagar. O Centro Cultural da Malaposta era um espaço de música, teatro, pintura, cinema, dança e outras formas de arte. Era um local para todas e todos os munícipes, enquanto público, mas também enquanto criadores, já que foram muitos os projetos que deram voz a bandas e grupos de teatro amadores ou mesmo a jovens das escolas do concelho. Ali foram geradas oportunidades, enquanto se acolhiam também artistas das mais diversas áreas. É assim que este espaço deve continuar, ao serviço de toda a população, com uma política de preços de bilhetes com valores controlados ou mesmo de entrada gratuita para grupos prioritários. Um espaço que seja a casa de artistas do concelho, recebendo outras manifestações culturais e gerando emprego para artistas e profissionais do espetáculo. É assim que este espaço deve ser. Meu e teu. Nosso e vosso. De todas e para todas as pessoas. Mas isso implica uma política que não olhe o negócio antes da população. Requer uma gestão pública preocupada com o bem-estar, que encare a Cultura com a importância que ela tem, inclusive na Educação e na Saúde, pela capacidade que tem de construir pontes e fomentar o pensamento critico e criativo. Um espaço assim pede um olhar para as pessoas como elas são, com tudo a que têm direito, impendentemente das suas possibilidades financeiras, e compromete responsáveis com uma gestão capaz e com a criação de uma verdadeira agenda cultural no município. No fundo, exige que não esteja em mãos alheias e privadas. Lamentavelmente, o executivo da Câmara Municipal de Odivelas não entende assim, não faz assim. Por isso vai mesmo entregar a privados o espaço cultural mais importante do município.

Artigo publicado a 24 de janeiro, na Rádio Cruzeiro